A CURA DO CORAÇÃO PARTIDO.
Uma certa médica que usa a arte, entre outras técnicas, na cura de pacientes cancerosos, conta uma história sobre um rapaz que, aos 24 anos de idade, procurou-a depois ter uma das pernas amputada na altura do quadril, a fim de se salvar de um câncer ósseo. No início do trabalho ele tinha um sentimento de injustiça e ódio por todas as pessoas "saudáveis". Parecia-lhe amargamente injusto ter sofrido essa terrível perda tão cedo em sua vida. Sua mágoa e raiva eram tão grandes que foram necessários muitos anos de trabalho para que ele começasse a sair de dentro de si mesmo e a curar-se. Ele precisava curar não apenas o corpo, mas também o coração partido e o espírito ferido.
O rapaz trabalhou com afinco e profundidade, contando sua história, desenhando-a, dedicando uma percepção consciente a toda a sua vida. À medida que vagarosamente se curava, desenvolveu profunda compaixão por outras pessoas em situação semelhante. Começou a ir a hospitais visitar pessoas que também haviam sofrido sérias perdas físicas. Em certa ocasião, contou ele à sua médica, visitou uma jovem cantora que estava tão deprimida pela perda dos seios que nem sequer tinha coragem de olhá-lo nos olhos. As enfermeiras ligaram o rádio, talvez com a esperança de animá-la. O dia estava quente e o rapaz vestia shorts. Finalmente, desesperado para conquistar a atenção da moça, ele desatarraxou a perna artificial e começou a dançar pela sala, numa perna só, estalando os dedos para acompanhar a música. Ela o olhou assombrada, depois caiu na gargalhada e exclamou: "Cara, se você consegue dançar, eu consigo cantar!"
Quando esse rapaz começou a trabalhar com desenhos, no início do tratamento, fez um esboço a lápis de seu próprio corpo na forma de um vaso atravessado de alto a baixo por uma profunda rachadura negra. Desenhou essa rachadura mil vezes, rangendo os dentes de raiva. Muitos anos depois, para encorajá-lo a completar seu processo, a médica mostrou-lhe esses primeiros desenhos. Ele viu o vaso e disse: "Ah, este aqui não está terminado".
Quando ela sugeriu que ele o terminasse, ele correu o dedo ao longo da rachadura e disse: "Olhe, é por aqui que a luz passa". Com um lápis amarelo, desenhou a luz fluindo através da rachadura para dentro do vaso e disse: "O nosso coração pode se fortalecer nos lugares partidos".
Adaptação de texto extraído do livro "Um Caminho com o Coração" - J. Kornfield
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