JESUS, FAZEI OS NOSSOS CORAÇÕES SEMELHANTES AO VOSSO!
Escrevi este texto há um ano, com outro título, mas resolvi reeditá-lo porque, perdão e tolerância, são sentimentos sempre muito necessários nos relacionamentos humanos.
Terminamos mais um mês de junho, em que se celebra a festa do Sagrado Coração de Jesus. Certamente, em muitos momentos de oração com a comunidade, pedimos a Jesus: Fazei o nosso coração semelhante ao Vosso! Será que essa invocação é consciente? Quando fazemos esse pedido a Jesus, temos a exata dimensão da responsabilidade que estamos assumindo?
Quem realmente já experimentou a maravilhosa sensação de bem-estar que o ato de perdoar pode proporcionar sabe que o perdão é fonte de paz e felicidade. E só quem perdoou na vida sabe o que é amar.
Todos nós já ouvimos a infeliz frase: “Perdoar eu perdôo, mas não esqueço!” Quem diz isto, na verdade, não sabe o que é o perdão. Não que seja possível apagar da memória o que se passou, mas o fato de dizer que não esquece, neste caso, significa que guarda algum ressentimento. E, além disso, o ódio que se guarda, vai matando só quem sente.
Quanto tempo se perde com rancores e pensamentos negativos com relação a pessoas e acontecimentos! O que foi já não serve, é passado! O presente é o presente que o tempo quer te entregar.
Quando não se permite ao amor respirar, o orgulho consegue ganhar.
Certa vez assisti a um filme que retratava o dia-a-dia de uma comunidade Amish, um grupo religioso cristão baseado nos Estados Unidos e no Canadá, e este filme me ensinou muito sobre o perdão.
Eu nasci católico, fui criado como católico, cresci na fé como católico e, na graça de Deus, serei católico até o fim. Digo isto para que não pareça que estou fazendo apologia ao protestantismo, pois esta, definitivamente, não é a minha intenção. Mesmo assim, sempre norteado pelos dogmas da nossa Igreja, e com a visão crítica, mas tolerante, de um católico convicto, me permito pesquisar os costumes e até extrair os bons exemplos de irmãos de outras religiões, pois a finalidade da religião, seja ela qual for, como o próprio nome diz, é nos religar a Deus.
A PAZ ENTRE AS RELIGIÕES É POSSÍVEL
É claro que muitos dirigentes e fiéis de algumas religiões se perdem no caminho, mas o que devemos extrair é o que há de bom, porque sempre há algo de bom, como um ensinamento ou um exemplo positivo.
TRANSPORTE UTILIZADO PELOS AMISH
Pois bem, no filme a que me referi, um integrante da comunidade amish, por ter problemas com alguns membros do grupo, começou a incendiar os celeiros de algumas famílias. Como não conseguiam descobrir quem estava fazendo isso, e sem imaginar que pudesse ser um membro da comunidade, pediram a ajuda da polícia da cidade. A polícia logo descobriu o culpado e a justiça do estado determinou que ele fosse julgado pelos crimes que cometeu. O culpado se arrependeu e, no mesmo instante, foi perdoado e aceito por todos os integrantes da comunidade, mas a justiça não aceitou a retirada da denúncia contra ele, pois o processo já estava em andamento e ele deveria ser julgado. No dia do julgamento, num ato de total solidariedade e fraternidade, a comunidade inteira acompanhou o acusado ao tribunal. Questionado por um morador da cidade, sobre como poderiam perdoar os crimes cometidos contra eles e ainda acompanharem o culpado ao julgamento como se fossem verdadeiras testemunhas de defesa do acusado, o líder da comunidade Amish respondeu:
-Nós condenamos o pecado, mas nunca o pecador!
Que este exemplo seja seguido por todos nós, para que paremos de perder tempo com sentimentos negativos, que só dificultam a nossa caminhada em direção ao Pai! Podemos sim, ajudar nossos irmãos que estão indo pelo caminho errado a voltarem para o caminho do bem, mas nunca julgá-los, condená-los e excluí-los do nosso meio sem que tenham a chance de se arrepender dos seus erros.
Que cristãos somos nós, se pedimos na oração que Jesus nos ensinou para que o Pai nos perdoe assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e, diante da provação, desprezamos o irmão que nos ofendeu? Deus nos perdoará na medida em que perdoarmos os nossos irmãos. Não é isso o que pedimos?!
O perdão deve estar sempre vivo em nossos corações, para que ressentimentos não envenenem a paz nas famílias e nas comunidades. O perdão e a tolerância devem, também, permear o relacionamento entre as religiões, que "precisam curar as feridas de séculos de separação e enfrentamento" (CNBB).
Passado esse mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, pensemos nas vezes em que pedimos a Jesus que fizesse os nossos corações semelhantes ao Seu Sagrado Coração e façamos um exame de consciência. Que essas orações não tenham sido da boca para fora e que aceitemos, de corações abertos, todas as graças que o Sagrado Coração de Jesus nos oferece para transformar os nossos corações de pedra em corações de carne.
Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo; tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne. (Ez 36,26)
A Paz a todos!
Marcio Tadeu Cardoso
As frases em itálico são trechos de músicas gravadas pelo Pe. Fabio de Melo.