Era o país dos poços. Qualquer visitante que chegasse, enxergaria somente poços grandes, pequenos, feios, lindos, ricos e pobres. Os poços falavam entre si, mas à distância, porque havia terra seca entre um poço e outro. Na realidade, quem falava era a boca do poço, ao nível da terra, e como a boca era oca, o poço dava a sensação de vazio, angústia, criando eco.
Havia poços com bocas muito largas, permitindo receber um monte de coisas inúteis. Quando estas passavam de moda, era só mudar para outras, também inúteis e passageiras. E as bocas continuavam vazias, ressequidas e sedentas, bem como a terra ao seu redor.
No fundo, o poço não estava contente.
E por falar em fundo, a maioria dos poços, entre as frestas deixadas pelas coisas, permitia de vez em quando sentir entre os dedos algo diferente. Eram momentos em que percebiam água no fundo. Diante desta sensação tão rara, alguns até sentiam medo e procuravam evitar o contato com o fundo.
Outros, porque tinham coisas demais, abarrotavam a boca, esqueciam logo a sensação do profundo e se ocupavam novamente com a superfície.
Mas, nesta superfície, às vezes algum poço falava desta experiência diferente, até que houve um poço que, olhando bem para seu interior, entusiasmou-se e quis continuar. Como as coisas que abarrotavam sua boca o incomodavam, procurou libertar-se delas lançando-as corajosamente para longe. Então o silêncio chegou! Ele começou a ouvir o borbulhar da água lá no fundo e sentiu uma paz profunda, viva, duradoura, refrescante e salutar.
Este poço descobriu que a vida se encontra na profundidade de si mesmo e não na multidão de coisas que se acumulam em sua boca. E se tornava mais poço quanto mais profundidade tinha!
Feliz com a descoberta procurou tirar água do seu interior. A água, ao sair, refrescou a terra seca ao seu redor que se tornou fértil e boa. E as flores começaram a brotar.
A notícia se espalhou e as reações foram diversas. Uns se mostraram incrédulos, outros sentiram o impulso por também fazer a experiência do profundo de si mesmo, mas muitos desprezaram a novidade, muito difícil.
Era mais fácil deixar tudo como estava.
Sem dúvidas, alguns resolveram fazer a experiência e começaram a libertar-se dos objetos inúteis que abarrotavam sua boca. Igualmente encontraram água em seu interior. A partir de então, as surpresas aconteceram. Por mais água que se retirasse para regar ao redor, o poço não se esvaziava!
E aprofundando ainda mais, descobriram que eles estavam unidos entre si por algo em comum: a água era a mesma!
E começou uma comunicação profunda porque as paredes dos poços deixaram de ser limites.
Mas, a descoberta mais sensacional, veio depois. A água que lhes dava a vida vinha de um mesmo lugar: o manancial. O manancial estava bastante longe, na montanha que dominava o País dos Poços. Lá estava ela, majestosa, serena, pacífica! E com o segredo da vida em seu interior! A montanha estava sempre lá. Algumas vezes visível entre as nuvens, outras vezes radiante de esplendor.
O manancial não havia sido descoberto antes porque os poços preocupavam-se apenas com sua superfície. A partir da nova descoberta, esforçavam-se por aumentar seu interior, crescendo em profundidade, para que o manancial chegasse mais facilmente a eles. A água que retiravam deles tornou a terra mais bela! Enquanto isso, lá fora, os que não faziam a experiência do profundo continuaram a aumentar sua boca, procurando futilidades.
(Adaptado de "Convivência Cristã", de A. Botana e traduzido por Irmão Silvino Fritzen, FSC)
PARA REFLETIR:
Com qual poço você se identifica hoje?
Você dá mais importância ao superficial, ao passageiro, ou ocupa-se também de buscar a Verdade na profundidade do seu ser?
Tenha coragem de mudar no que for preciso! Não se ocupe tanto das futilidades do dia-a-dia. Arrume tempo para sentir o borbulhar das águas do Manancial da Salvação que quer brotar em você. Não caia na armadilha de brincar de ser cristão, participando das Missas até, mas vivendo a injustiça no seu dia-a-dia. Muitas vezes se cai nessa armadilha sem preceber! Cuidado!
O seu “eu atual” provavelmente não seja o seu “eu ideal”, pois se o fosse você já estaria pronto. E ninguém está pronto, mas em constante processo de crescimento e aperfeiçoamento. Ser tentado a pecar não é pecado. Pecado é ceder à tentação. E você sabe que não se peca apenas por palavras e atos, mas também por pensamentos e omissões. Até Jesus sofreu com as tentações, pois mesmo sendo Divino, era também humano, mas não cedeu. E nós, que muitas vezes caímos, temos sempre a Mão de Deus estendida a nós chamando-nos de volta.
Portanto, não se acomode pensando que é melhor deixar tudo como está porque é mais fácil assim. Pode ser mais fácil agora, mas lembre-se que o caminho para o Pai é o da porta estreita. Jesus não nos oferece a facilidade, mas a Salvação! Busque o borbulhar da Água Viva na profundidade do seu ser e permita que Ela complete todo o seu interior. Partilhe a Água do Manancial da Salvação! Deixe que a Água Viva que vem do Manancial da Salvação brote em você, transforme você e, através de você, chegue a muitos irmãos. Só deixar que a Água do Manancial da Salvação brote em você não é o suficiente. Não queira se salvar sozinho, pois essa postura não salva ninguém.
Quanto mais Água Viva você partilhar com os irmãos, mais Ela brotará em você. Seja um canal da Graça de Deus! Seja uma ponte entre os irmãos e Deus! Seja um aqueduto que leva a Água do Manancial da Salvação aos que têm sede! Seja, assim, realmente feliz!