História do Ano Santo.
De acordo com o presidente da Associação Amigos do Caminho de Santiago de Compostela, Danilo Tiisel, para compreender a origem e a importância do Ano Santo, comemorado este ano, é preciso conhecer o contexto histórico e religioso dentro do qual foi instituído. "No ambiente cultural e social da Idade Média européia, sob a onipresente influência da Igreja, a consciência do pecado e a necessidade de se liberar de culpas eram sentimentos mais concretos e importantes para a população do que são hoje em dia", diz.
O Ano Santo Romano ocorre a cada 50 anos. Já o Ano Santo Compostelano, em intervalos variáveis (geralmente 5, 6 ou 11 anos). Os dois coincidiram pela última vez em 1700 e a próxima, só em 2100
Na época medieval, a Igreja concedia indulgências, isto é, o perdão dos pecados, em algumas situações. Recebiam o perdão, por exemplo, os fiéis que participavam das Cruzadas e os que ajudavam a construir um templo religioso. Também eram absolvidos os pecados das pessoas que peregrinavam a um santuário (a pé ou a cavalo) para cultuar as relíquias de um santo. Entretanto, havia algumas bulas papais que permitiam a pessoas de classes mais altas enviar alguém para peregrinar em seu lugar. Obtinham, dessa forma, perdão por procuração, sem realizar a caminhada.
O papa Calixto II elevou a cidade de Santiago de Compostela à dignidade metropolitana (sede de um arcebispado) e, em 1119, concedeu à Catedral de Santiago o privilégio do Jubileu Pleníssimo ou Ano Jubilar, mais conhecido como Ano Santo. Calixto II tinha importantes vínculos com a Espanha: era cunhado de dona Urraca, influente e poderosa rainha de León e Castela. Ela era filha do rei Afonso VI e mãe do rei Afonso VII, dois monarcas que apoiaram muito as peregrinações a Compostela.
Além de conceder o Jubileu, o papa declarou a Peregrinação Compostelana como uma das chamadas peregrinações maiores, com as de Roma e Jerusalém (cujos peregrinos eram chamados, respectivamente, de romeiros e palmeiros). O primeiro Ano Santo, no qual foi concedido o perdão aos peregrinos de Compostela, foi o de 1126.
O papa Alexandre III, em 1179, decretou perpétuo o Jubileu de Santiago de Compostela. O objetivo foi prestigiar o santuário e proporcionar aos fiéis um meio de obter perdão. Em 1332, o papa João XXII, em Avignon, editou uma bula concedendo indulgência também às pessoas que ajudassem os peregrinos com hospedagem ou esmolas.
É considerado Ano Santo Compostelano todo aquele em que 25 de julho, dia do martírio de São Tiago, cair em um domingo. Além desses, em ocasiões especiais, pode ser declarado um Ano Santo Compostelano extra, como ocorreu, por exemplo, em 1885 e 1938.
O Ano Santo Compostelano, portanto, não só é mais freqüente como é mais antigo que o conhecido Ano Santo Romano, decretado pela primeira vez em 1300. Tradicionalmente, no Ano Santo Romano ficam suspensas as outras indulgências não ligadas diretamente a Roma. Porém, por sua importância, a única indulgência que jamais é suspensa é aquela relacionada à peregrinação a Santiago de Compostela.